Rebuliço na vila.

Santo Agostinho já dizia que mente vazia é oficina do diabo, agora vocês imaginem três mentes desocupadas em um lugarejo pequeno nos remotos sertões brasileiros.

Lá pela década de cinquenta do século passado as vilas e pequenas cidades do interior potiguar não tinham abastecimento de água e as residências necessitavam de um jegue com ancoreta para transportar água para o lar.

O jumento de tão acostumado com o percurso já o fazia sozinho, era tão íntimo da família que entrava direto pela porta da casa e seguia tranquilo até o pote.

Gervásio, Leca e Valmir perambulavam pelas vielas sem ter o que fazer, já era noite e não encontravam uma diversão. Olhavam um para outro e suspiravam lamentando a desventura de viver sem nenhuma emoção.

Alguém então pensa em uma solução para o tédio. Partiram os três até a Capoeira Grande para trazer o jumento de Júlio Fontes. No beco de miúda amarraram uma corda no rabo do jumento e na outra ponta uma lata de leite.

Uma cipoada assustou o jegue que disparou e quanto mais corria mais se assustava com o barulho da lata. Subiu a rua da lama amendrontando as famílias que recebiam a brisa mansa sentados em suas cadeiras de fitilho.

O jumento disparava em uma velocidade suicida, passa de frente ao patamar da igreja e nem dá conta de São Francisco, pega o rumo da casa de Júlio Fontes, uma pessoa começa a tocar desesperadamente o sino da capela, Raimundo Lacerda tranca a porta da frente, seu Manduca se abaixa por trás do balcão do bar pensando se tratar de mais uma contenda.

O jumento inocente emburaca pela porta da casa do seu dono e só para quando se joga por cima dos potes de barro.

Júlio Fontes perseguiu os responsáveis, mas não encontrou pistas deles.

0 comentários: