mas agora que estou miserável.

Passadas as eleições três grandes preconceitos da elite afloram. Primeiro Mayara Petruso avançou contra essa Gleba de miseráveis nordestinos; no domingo passado jovens da nata paulistana atacaram gratuitamente homossexuais na avenida paulista; no meio da semana o jornalista da RBS, afiliada da globo,Luiz Carlos Prates demonstrou todo o seu ódio contra as camadas pobres da sociedade que ainda não leram um livro, mas já estão comprando carro, ora que pretenciosos.

Este é o resultado de uma campanha que esqueceu os problemas do país e transformou a disputa em um grande palco de discussões pequenas, preconceituosas e conservadoras. É ainda pior se analisarmos que a intolerante campanha tucana foi forjada com a ajuda de grupos cristãos, religiosos cínicos e hipócritas que usam em benefício próprio a fé de seu povo.

O texto abaixo foi colhido do blog do alexandre porto:

POLÍTICA
Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010 - 23:42
Plínio Ferreira Guimarães: "Carta à Luiz Carlos Prates"

Recebi do companheiro Plínio Ferreira Guimarães, professor de história da cidade mineira de Guanhães, esse "desabafo" contra o infeliz, para dizer o mínimo, comentário do jornalista Luiz Carlos Prates, da RBS de Santa Catarina. Muitos de vocês devem ter visto este senhor responsabilizar a "farra do crédito para os miseráveis" pelos acientes de trânsito.
Caro Sr. Luiz Carlos Prates,

Me chamo Plínio, sou professor de História e, como tantos outros das camadas mais baixas da sociedade, consegui comprar um automóvel nos últimos anos devido a facilidade de crédito implantado pelo governo Lula. Assim como tantos outros, adquiri um carro popular, já com 4 anos de uso e sem qualquer acessório que produza maior conforto ou coisa do tipo.

Porém, gostaria de relatar algo que o Sr. provavelmente não sabe, ou tenta evitar saber, ao expor seus comentários ao vivo na TV. Da mesma forma que o governo do presidente Lula me permitiu adquirir um carro popular, também me permitiu continuar meus estudos. Durante este governo, graças aos investimentos em educação e apoio à pesquisa, foi possível a uma pessoa como eu, vinda de família pobre e do interior do estado de Minas Gerais, fazer o mestrado e hoje cursar o doutorado numa instituição pública federal de ensino superior.

Mais ainda, Sr. Luiz Carlos Prates, este mesmo governo me permitiu ascender socialmente e obter estabilidade ao ampliar as instituições de ensino comprometidas com a oferta de cursos técnicos e superiores, como as Universidades e os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, numa das quais hoje sou professor efetivo. Foram inúmeros concursos e a efetivação de milhares de docentes e técnicos nestas instituições. E é exatamente sobre este aspecto que gostaria de avançar na minha discussão.

O Sr. afirma que este governo permitiu a quem "nunca tinha lido um livro" adquirir um carro através do crédito fácil. Porém, esquece-se o Sr. de mencionar que este governo "espúrio" investiu mais em educação do que qualquer outro. Este mesmo governo deu acesso às camadas mais baixas da população ao banco das universidades e permitiu a diversos jovens estudarem e terem uma profissão ao ampliar as escolas técnicas por todo país.

Não, Sr. Luiz Carlos Prates, estas pessoas que compram carros hoje não são tão "miseráveis" e "desgraçadas" quanto o Sr. pensa. Pelo contrário, estas pessoas compreendem melhor a sociedade em que vivem e os grandes ganhos que tiveram nos últimos anos. Não, Sr. Luiz Carlos Prates, estes indivíduos não passeiam de carro para amenizar os conflitos entre maridos e esposas.

Estes indivíduos saem para celebrarem, juntos, a felicidade de uma nova vida que se constrói. Não são pessoas frustradas, pelo contrário, são indivíduos REALIZADOS. Na verdade, frustrada é a elite que sempre teve este país nas mãos e que agora não consegue aceitar que as camadas mais pobres ascendam e passem a ter acesso àquilo que era tido como exclusividade dos grupos privilegiados economicamente.

Não, Sr. Luiz Carlos Prates, os acidentes nas rodovias não acontecem por causa destes "miseráveis" e "desgraçados". São diversos os motivos dos acidentes, entre eles, o excesso de velocidade daqueles que podem adquirir os modelos de automóveis mais luxuosos e velozes e que, mesmo com toda a tecnologia de seus carros, também não conseguem "vencer as curvas" e outras barreiras que possam aparecer – entre elas, veículos de indivíduos inocentes.

Por fim, caro Sr. Luiz Carlos Prates, gostaria de informar-lhe que consegui trocar de carro. Ainda circulo por aí, nas tão movimentadas estradas do país, com um automóvel popular, mas já mais novo e com algum conforto a mais que o primeiro. Eu, minha esposa e minhas lindas filhas estamos felizes com o nosso automóvel, com a nossa casa ainda alugada e com as viagens que podemos fazer. Espero que o Sr. reflita sobre o quão preconceituoso e desvinculado da realidade foi o seu comentário que ganhou repercussão por todo o país.

Sem mais, despeço-me aqui. Um cordial cumprimento deste homem proprietário de um humilde carro popular comprado graças ao crédito fácil com parcelas a perder de vista, mas feliz.

resposta de um nordestino a Mayara Petruso

Cara Mayara Petruso

Preliminarmente desculpe-me se parecer pretencioso um mestiço nordestino sertanejo do semi-árido querer responder a tão branca e doce flor do lácio inculta e bela que brotou nos ares mais puros dos jardins paulista.

Entremente, não posso deixar de replicar vossa suave razão acerca dessa raça de ignorantes que habita o norte e o nordeste do seu valioso país.

Ora querida, todo preconceito e intolerância é sinal claro de desconhecimento, assim todo racista é ignorante pois preconcebe uma opinião sem buscar se nutrir de informações sobre ela.

O povo do nordeste não é inferior, ignorante, burro, analfabeto como pensam as mentes mesquinhas que vagam pelos salões da nova corte. Somos um povo que sofreu ao longo desse doloroso processo histórico por motivos bem mais racionais do que possa imaginar a mente estéril de xenófobo ou racista.

Se não estamos em situação tão confortável como a vossa é porque fomos relegados para emergir no centro industrial uma elite branca incontrolável e sempre eminente.

Será tão difícil compreender que o processo colonizador natural desse país seria o pérpetuo distanciamente da casa grande em relação à senzala? Será tão complicado perceber que todo esse acirramento e inconformismo partiu do fato de está se iniciando um processo contrário ao qual estavamos etermamente condenados?

Cara Mayara! as vezes penso tratar-se de uma criança boba que acabou se transformando em protótipo de fascista pelo fato de ter formado uma opinião tão pequena através de boatos na internet.

Concluo estas pobres linhas de um semianalfabeto sertanejo com a grandeza da essência do espírito nordestino escrito por um carioca, Euclides da Cunha, que viveu grande parte da sua vida em São Paulo, escrevendo para o jornal O Estado de São Paulo:

"Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendente do que Vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas, na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta sobre os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instântanea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos orgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente".


Portanto Cara Mayara, não subestime esse povo que aprendeu com as adversidades, que foi preterido da escola para que o filho da fina flor pudesse cursar medicina na universidade pública. Saiba que do mais profundo íntimo da minha alma faço minha a rija frase de Euclides "O sertanejo é acima de tudo um forte".

Adriano Fontes