resposta de um nordestino a Mayara Petruso

Cara Mayara Petruso

Preliminarmente desculpe-me se parecer pretencioso um mestiço nordestino sertanejo do semi-árido querer responder a tão branca e doce flor do lácio inculta e bela que brotou nos ares mais puros dos jardins paulista.

Entremente, não posso deixar de replicar vossa suave razão acerca dessa raça de ignorantes que habita o norte e o nordeste do seu valioso país.

Ora querida, todo preconceito e intolerância é sinal claro de desconhecimento, assim todo racista é ignorante pois preconcebe uma opinião sem buscar se nutrir de informações sobre ela.

O povo do nordeste não é inferior, ignorante, burro, analfabeto como pensam as mentes mesquinhas que vagam pelos salões da nova corte. Somos um povo que sofreu ao longo desse doloroso processo histórico por motivos bem mais racionais do que possa imaginar a mente estéril de xenófobo ou racista.

Se não estamos em situação tão confortável como a vossa é porque fomos relegados para emergir no centro industrial uma elite branca incontrolável e sempre eminente.

Será tão difícil compreender que o processo colonizador natural desse país seria o pérpetuo distanciamente da casa grande em relação à senzala? Será tão complicado perceber que todo esse acirramento e inconformismo partiu do fato de está se iniciando um processo contrário ao qual estavamos etermamente condenados?

Cara Mayara! as vezes penso tratar-se de uma criança boba que acabou se transformando em protótipo de fascista pelo fato de ter formado uma opinião tão pequena através de boatos na internet.

Concluo estas pobres linhas de um semianalfabeto sertanejo com a grandeza da essência do espírito nordestino escrito por um carioca, Euclides da Cunha, que viveu grande parte da sua vida em São Paulo, escrevendo para o jornal O Estado de São Paulo:

"Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendente do que Vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas, na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta sobre os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instântanea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos orgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente".


Portanto Cara Mayara, não subestime esse povo que aprendeu com as adversidades, que foi preterido da escola para que o filho da fina flor pudesse cursar medicina na universidade pública. Saiba que do mais profundo íntimo da minha alma faço minha a rija frase de Euclides "O sertanejo é acima de tudo um forte".

Adriano Fontes

0 comentários: