O desespero que assola os homens.

"No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (João 16.33). Jesus disse aos Seus discípulos que antes da vitória final "haverá Grande Tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais" (Mateus 24.21). "Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus" (Efésios 5.15-16).

O texto abaixo foi publicado ontem no blog www.tiocolorau.zip.net, tecerei alguns comentários sobre isso em outra hora mais oportuna já que ontem fui vítima de uma situação análoga, porém muita mais danosa e grave.

O TERROR E O FIM DA CORDIALIDADE

Muito antes de Chico Buarque de Holanda encantar o mundo com sua poesia musical, o seu pai já era o respeitado advogado e jornalista Sergio Buarque de Holanda, intelectual reconhecido. Autor de diversas obras, figurando a clássica "Raízes do Brasil" como a mais conhecida delas. Sergio Buarque também foi o autor da conhecida teoria de "o brasileiro, o homem cordial". O autor viveu entre os anos de 1902 e 1982. Em 2009 a sua teoria precisaria passar por sensíveis transformações. O brasileiro mudou, e mudamos para pior. Uma mínima experiência pessoal me levou a essa reflexão que, ao mesmo tempo em que peca pela generalização, perdoa-se pelos sinais dos tempos nos noticiários. É a obviedade. A primeira vítima do terror, do temor, é a civilidade. O que passou-se. Raramente consigo acordar às 4:30h da manhã para dar uma corrida com amigos pela João da Escóssia, e hoje foi um desses dias. Após a corrida, por volta das 6 da manhã, fui a casa de um desses amigos, na Rua Moisés da Costa Lopes, no "perigoso" bairro da Nova Betânea, a duas quadras do meu escritório, que fica na própria João da Escóssia. Tomei banho e me vesti para o trabalho por ali mesmo. Sem a chave do prédio, que só abre as 8h, resolvi sentar na calçada da dita casa, fazendo uma hora e lendo um livro até que fosse o tempo de encontrar gente na Quixote. Trinta minutos de leitura depois e me vem um senhor, que parecia ser o dono da casa vizinha, enfurecido, me perguntando o que eu fazia ali, por que estava ali, para onde eu ia, quem eu estava esperando. Repito, enfurecido. Imaginei o temor que aquele homem deveria estar sentindo. Imaginei o que passou pela cabeça daquela pessoa, atormentada pelo que vê, lê e ouve. Expliquei que eu trabalhava na João da Escóssia e estava esperando o escritório abrir. Ele não se conteve. Dei-lhe um cartão desses, de visita comercial: Igor Rosado - Quixote Comunicação, com endereço, telefone, site, e-mail, só faltando dizer que o meu time é o Potiguar (o que poderia piorar a situação). Ele se acalmou. "Percebeu que nós não estamos na Índia e eu não sou um Dalit". Amuou-se, baixou a cabeça, vermelho não sei se de raiva, vergonha ou alivio de não estar na frente de um bandido que amarraria a sua família e roubaria seus bens. Entrou em sua casa sem dizer nada. Me sentei tranquilamente e continuei minha leitura. Poderia ter esbravejado ou ignorado a intriga. Na verdade, só pensava: a que ponto chegamos. Somos todos suspeitos? Não é só a segurança que a violência tira das pessoas. Ela toma também as melhores qualidades.

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