Viva a Palestina




Recordo-me agora de uma frase infeliz de Paulo Maluf quando ocorreu um crime hediondo em São Paulo e a sua reação foi dizer "estupra, mas não mata".

O meu adversário nesta peleja, certamente sem má-fé, se assemelhou ao deputado quando afirmou que a foto postada na publicação anterior é propaganda do Hamas. Ora! então vale matar? o que não pode é divulgar para não sensibilizar a opinião pública contra guerra? Quer dizer que devemos nos calar para não beneficiar o tal grupo?

Aliás, não podemos dizer que aquilo é guerra, não existe guerra de um exército só, aquilo é massacre, é genocídio mesmo.





No direito, que o meu opositor neste litígio conhece tão bem, existe o entendimento de que a defesa deve seguir a proporção do agravo o que creio estar mais próximo do conceito de justiça. As respostas dos Palestinos às ocupações israelenses, à segregação, à limitação e ao cerceamento do direito de ir e vir são até tímidas. Enquanto as contraofensivas do Estado sionista são espantosamente desproporcionais e não me canso de insistir neste assunto.








Na contagem dos mortos já se aproximam de 1200 palestinos quase a metade são crianças, mulheres e idosos. Como posso me calar diante de uma situação dessa?

"Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim:
não dizemos nada.
Na segunda, já não se escondem.

Pisam as flores, matam o nosso cão e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada".
Maiakovisk

5 comentários:

Gláuber disse...

Apoiado!

Anchieta Campos disse...

Mesmos argumentos, todos já satisfatoriamente respondidos em meus comentários em outros posts deste blog.

Realmente a guerra da propaganda Israel já perdeu faz tempo.

Claro que não se vale matar inocentes em nenhuma guerra, e Israel sabe muito bem disso, mas os terroristas do Hamas não sabem (ou não respeitam) este princípio universal, nem mesmo para o lado de seus próprios pares.

Israel é culpado dos terroristas se confundirem com civis? De terroristas se esconderem entre civis, hospitais, colégios, mesquitas? Dos mesmos fundarem suas bases militares nestes meios? Israel é culpado então por seus ataques serem sempre anunciados aos civis com dias de antecedência, pedindo insistentemente que os mesmos evacuem locais determinados? Israel é culpado por aguentar anos de foguetes caindo em seu território, sendo os mesmos lançados pelos membros do partido "democrático" do Hamas? Israel é culpado por tentar impedir que foguetes continuem a cair em seu território?

Proporcionalidade? Me espanta você ainda defender isto depois do que postei, só se não tiver lido, ou lido com uma pré-disposição. Então devo entender por proporcionalidade Israel passar a atacar diretamente áreas civis sem avisar aos mesmos, com o fim de os fazerem vítimas, pois isso é o que o Hamas faz. Devo entender por proporcionalidade também os militares de Israel destruírem os bunkers de segurança (que em cada residência da região sul se faz presente), e fincarem suas bases militares ao lado de seus civis, em seus colégios, hospitais, templos, pois isto é o Hamas faz em Gaza. Devo entender por proporcionalidade também que Israel pregue o suícidio de seus civis, pratique ataques terroristas surpresas e destrutivos em áreas iminentemente civis, uma alienação religiosa, incentivando o ódio e a extinção de todos os palestinos, pois isso é o que faz o Hamas, com mais destaque que o Fatah, contra Israel. Devo entender por proporcionalidade também que Israel passe seus próximos seis, sete anos, disparando foguetes aleatoriamente sobre Gaza, com o fim de matar quem quer que seja, tanto civis quanto militares, não importando, pois isto é o que o Hamas fez nos últimos anos em Israel. Enfim, são inúmeros casos de "proporcionalidade" que eu poderia citar aqui, mas não quero lhe cansar.

Realmente, é muito fácil para nós brasileiros censurarmos Israel, pois não temos a necessidade de termos bunkers de segurança em nossas residências, bem como não somos obrigados a estarmos antenados constantemente ao rádio ou atentos as sirenes para sabermos quando um foguete está se dirigindo para nossos lares, isto em uma realidade que se faz constante há anos em Israel.

Aqueles que se demonstrarem contra a campanha militar em Gaza devem perceber que se o Hamas tivesse parado de atacar Israel com seus foguetes, isso durante anos, Israel não teria lançado o seu ataque. Se os membros do Hamas tivessem focado na construção de sua sociedade e não em destruir os outros, tudo isto não estaria acontecendo. Caso palestinos reconheçam o direito de Israel a existir, finalizar o terrorismo contra os judeus e nutrir um sincero desejo de viver em paz, eles terminariam o seu sofrimento. A solução agora está simplesmente nas mãos dos palestinos, não dos israelenses.

Fizalizo apenas reforçando, caso o caro amigo ainda não tenha percebido, que também fico chocado com as imagens de crianças palestinas mortas, bem como que sou uma pessoa que um dos meus princípios é o da paz universal entre os povos, repugnando a guerra; mas isto não me impede que a minha razão continue a trabalhar normalmente e não seja influenciada pelo lado emotivo de certas cenas, mas sim, independentemente de qualquer coisa, sempre procurar ser imparcial em minhas análises, não defraudando nem um lado nem outro, mas deixar que fatos não manipulados sejam o meu norte de julgamento. É isto o que um juiz deve fazer.

Me despeço renovando nossos laços de amizade e fraternidade, os quais creio que só se fortalecem com estas nossas conversas digitais.

Forte amizade, meu caro amigo.

Anchieta Campos

Anchieta Campos disse...

Deixo nesta oportunidade um artigo de Ali Kamel, um jornalista árabe.

"Eu acredito em eleições. E acredito que o povo sempre tem a capacidade de julgar o que considera bom para si. Isso não quer dizer que o povo acerte sempre: não são poucas as vezes em que a decisão mostra-se errada no futuro. Não importa, no momento em que comparece às urnas, certo ou errado, o povo é responsável por suas escolhas.

Por que essa conversa? Porque isso não me sai da mente quando vejo, chocado, os bombardeios em Gaza. Em 2006, houve eleições para escolha do primeiro-ministro palestino. Era um contexto em que os EUA clamavam pela democratização do mundo árabe. Quando o Hamas saiu-se vitorioso, muita gente, diante dos lamentos dos americanos, riu, dizendo algo assim: "Ora, não queriam democracia? Agora o povo vota, escolhe o Hamas e os EUA lamentam? Então democracia só vale quando ganham os aliados?" Na época, escrevi que a simples presença do Hamas nas eleições mostrava que aquilo não era uma democracia: porque democracia não é o regime em que todas as tendências disputam o voto; democracia é o regime em que todas as tendências que aceitam a democracia disputam o voto. Como o Hamas prega uma teocracia, um sistema político que o aceita como legítimo aspirante ao poder não pode ser chamado de democracia. Seja como for, tendo sido democráticas ou não, aquelas eleições expressaram a vontade do povo: observadores internacionais atestaram que o pleito transcorreu sem fraudes.


E o que pregava o Hamas na campanha de 2006? Antes, para entender o linguajar, é importante lembrar que o Hamas não aceita a existência do Estado de Israel, chamado de "Entidade Sionista". Assim, quando se refere à "Palestina", o Hamas engloba tudo, inclusive Israel. Destaco aqui três pontos do programa eleitoral (na disputa, o grupo deu-se o nome de "Mudança e Reforma"): "A Palestina é uma terra árabe e muçulmana"; "O povo palestino ainda está em processo de libertação nacional e tem o direito de usar todos os meios para alcançar esse objetivo, inclusive a luta armada"; "Entre outras coisas, nosso programa defende a 'Resistência' e o reforço de seu papel para resistir à Ocupação e alcançar a liberação. A 'Mudança e Reforma' vai também construir um cidadão palestino orgulhoso de sua religião, terra, liberdade e dignidade; e que, por elas, esteja pronto para o sacrifício."

Deu para entender? O Hamas propôs um programa segundo o qual não há lugar para judeus na "Palestina", o uso da luta armada deve ser reforçado para se livrar deles, e os cidadãos comuns devem estar preparados para se sacrificar (morrer) pela religião, pela terra, pela liberdade e pela dignidade.

Havia alternativa? Sim, apesar da ambiguidade eterna, o Fatah do presidente Mahmoud Abbas (e, antes, de Yasser Arafat), na mesma eleição, pregava a saída de Israel dos territórios ocupados em 1967, a criação de um Estado Palestino com sua capital em Jerusalém e uma solução para os refugiados de 1948 com base em resoluções da ONU, uma agenda que só parece moderada porque é comparada à do Hamas. Embora estimulasse e declarasse legítima a resistência à ocupação, a novos assentamentos judaicos e à construção do muro de proteção que Israel ergue entre a Cisjordânia e seu território, o Fatah declarava expressamente: "Quando o imortal presidente Arafat anunciou em 1988 a decisão do Conselho Nacional Palestino, reunido naquele ano, de adotar a 'solução histórica', que se baseia no estabelecimento de um Estado independente Palestino lado a lado com Israel, ele estava de fato declarando que o povo palestino e suas lideranças tinham adotado a paz como uma opção estratégica."

E qual foi a decisão dos palestinos? Num sistema eleitoral que adota o voto distrital misto, o Hamas ganhou tanto no voto proporcional quanto nos distritos, abocanhando 74 dos 132 assentos do Parlamento. Ou seja, diante do desgaste de 40 anos do Fatah, e das denúncias de corrupção que pairavam sobre o movimento, os palestinos deixaram a paz de lado e optaram pela promessa de pureza divina e dos foguetes do Hamas. Meses depois, uma luta interna feroz entre os dois grupos teve lugar e resultou numa divisão territorial: o Fatah ficou com a Cisjordânia, onde a situação é de calma, e o Hamas ficou com Gaza, de onde continuou pregando o programa aprovado pelos eleitores: enfrentamento armado, mesmo tendo consciência do que isso acarretaria,

Diante disso, dá para dizer que os palestinos de Gaza são inocentes vítimas do jugo do Hamas e de uma reação desproporcional dos israelenses?

Olha, eu deploro a guerra, lamento profundamente a morte de tanta gente, especialmente de crianças, vítimas de uma guerra de adultos. Vejo as bombas, e fico prostrado, temendo que o bom senso nunca chegue. Mas isso não me impede de ver que a guerra, com suas consequências, foi uma escolha consciente também dos palestinos de Gaza. Retratá-los como despossuídos de todo poder de influir em seus destinos não é mais uma verdade desde 2006.

Parecerá sempre simplificação qualquer coisa que se diga num espaço tão curto, em que é preciso deixar de lado as raízes desse conflito e a trama tão complicada que distribuiu culpa e vítimas por todos os lados. Mas não consigo terminar este artigo sem dizer: para que haja paz, os dois lados têm de ceder em questões tidas como inegociáveis, o apelo às armas tem de ser abandonado, o Estado Palestino deve ser criado ao lado de Israel, cujo direito a existir não deve ser questionado. Se isso acontecer, muitos árabes e israelenses daquela região não se amarão, terão antipatias mútuas, mas viverão lado a lado.

Utopia?".

Unknown disse...

Apoiado²!

Gláuber disse...

Só reforçando o primeiro "Apoiado"...