Filomena vivia sozinha em uma casa sem reboco nem luz elétrica. Alternava raros momentos de lucidez com sua loucura desmedida. Por algum momento era gentil e educada em outros irascível e desbocada.
Nas manhãs alegres andava pela rua tranquila e sorridente cantando:
A carreira da raposa
ela é muito feia
o cachorro corre atrás
ela se arrupeia.
Nas outras dizia palavrões com os meninos que passavam para escola:
-Filó tem no rabo da sua mãe fio de rapariga.
Os cortejos fúnebres, tinham por obrigação passar de frente à sua casa o que era muito arriscado para o defunto devido a sua instabilidade emocional.
Mas não se havia, até aquela data, registrado nenhum incidente quando se tratava de sepultamento, e isso nos levava a crer que até os loucos tinham uma ética para com falecidos.
Uma velhinha que havia morrido em um sítio próximo, foi trazida para ser sepultada na cidade e quando o cortejo passava em frente a casa de Filomena ela começou a rezar, se aproximou do caixão e parou a marcha fúnebre enquanto orava:
Repouso eterno dai-nos senhor
à luz do perpétuo resplendor
Todo mundo apreensivo, olhos marejados, soluços durante a recomendação do corpo esperando o amém de Filomena.
A ladainha se aproximava do fim, a família aliviada por ter tudo ocorrido em paz aguardava apenas a conclusão da súplica para seguir o sepultamento.
E Filomena faz a última oração:
-Em nome do Pai
do Filho
e do Espírito Santo.
Todos
-Amém.
E por fim, Filomena consola a família enlutada:
-Essa não faz mais cachorrada na terra.
Alguém despercebido ainda gritou. Amém!
Súplica de Filomena é caminho para o céu.
Postado por
Adriano Fontes
em quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
1 comentários:
Adriano,
Filomena foi uma pessoa bondosa.Morou conosco nos anos 50.Ajudando a minha mãe a nos criar... Ela se orgulhava em dizer que nós éramos seus filhos de criação. Depois, passou a morar com Orcília qdo chegou àquele estado de saude até o seu fim.
Temos mto respeito por essa figura.Que Deus lhe dê o descanso eterno!
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