Aniversário de Mamédio Nozito tinha até Aluá

Os tropeiros que cruzavam o Rio grande do Norte levando sal, peixe e outras mercadorias para os sertões do Ceará e Paraíba se arranchavam em alguns lugares durante a longa peleja.

Os pontos de apoio eram conhecidos de todos os comboieiros, entre eles o velho Mamédio Nozito que não largava a labuta mesmo com sua avançada idade.

O velho era burlesco e amigo dos viajantes, todos gostavam dele, inclusive os fazendeiros que alojavam os tropeiros.

No dia do seu natalício estava o grupo na casa de um grande fazendeiro da região conhecido como Coronel Leite nas tranquilas margens do efêmero rio Apodi.

Quando soube da data, o proprietário ordenou que se fizesse uma grande festa regada a aluá produzido a partir da casca do ananá.

Algum tempo depois o anfitrião pediu para que Mamédio proferisse um discurso sobre sua longa e sofrida vida itinerante, porém o homenageado não conduzia o dom da retórica, não dominava as palavras, não conduzia o discurso como fazia com os animais da tropa.

Não podia constranger o Coronel que lhe preparara a festa com tanto gosto, observou o olhar atento dos companheiros de viagem, ficou nervoso e começou a suar intensamente enquanto o silencio possuia a atmosfera daquele alpendre.

Preocupado em desagradar a todos e mesmo prevendo uma tragédia maior Mamédio Nozito se levantou sob os aplausos acalorados dos presentes.

-Hoje completo oitenta anos.

Foi aí que o mundo desabou em cima dele, Mamédio engasgou e não conseguia dizer mais uma palavra sequer, gaguejou, ficou vermelho, tentou, tentou, mais não tinha mais o que dizer.

Baixou a cabeça envergonhado quando mirou a barguilha aberta. Foi aí que quase involuntariamente saiu as últimas palavras de sua "eloquente" fala para delírio da platéia que ficou enlouquecida.

-E tu, se fosse viva tava completando oitenta anos também.

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