a espera de um milagre

A natureza não foi muito benevolente com Silva, ele era um bom sujeito, gentil, educado, bem-humorado. Todavia seus atributos físicos não o ajudavam na difícil tarefa de viver.

As garotas o desprezavam mesmo assim nunca perdia sua disposição de espírito. Silva conhecia da sua fealdade, mas não perdia a esperança de conseguir uma namorada, não precisava ser bonita, bastava ser de gênero oposto.

No dia de uma grande festa em sua cidade, Silva pressagiou que estava chegando o seu grande momento, daquela noite não passava.

Não economizou no perfume nem na roupa, nunca tinha se vestido com tanta presteza, engraxou o sapato e seguiu para a festa com muita fé.

Chegou, começou a beber para ganhar coragem; olhou pra primeira, não foi correspondido; da segunda levou um fora descomunal; chamou a terceira pra dançar, a moça muito educada disse que estava com uma dor no pé.

E assim foi por muito tempo, já estava ele abatido pela cólera da solidão, entristecido pelo desamor que insulta os excluídos, assaltado pelo desespero que acomete os pobres de feições, humilhado pelo abandono que absorve os desprovidos de beleza. Quando um acontecimento reergue suas forças e o faz ressurgir tal qual uma fênix.

Silva buscou um lugar mais discreto para cumprir suas necessidades fisiológicas e bem a vontade refletia sobre sua má sorte quando ouviu:

-Psiu, psiu...

Não acreditou que fosse com ele e continuou sua empreitada mictória, porém, o chamamento continuou insistentemente, acrescido de uma exclamação:

-Ei! Ei! psiu...

Silva começou a acreditar que era com ele, seu corpo começou a se arrepiar, se sentia como iluminado por um milagre.

Resistiu por algum tempo até não aguentar mais, levantou o olhar e percebeu um pouco mais a frente a mulher que lhe fazia sinal.

Não havia muita luminosidade, mas percebia-se uma mulher bem-apessoada, Silva não se contia de felicidade. Olhou para os lados pra confirmar se ela se dirigia mesmo a ele. Não havia outra pessoa, mesmo assim, para ter certeza perguntou:

-É comigo?

-É você mesmo, venha aqui?

Silva alcançara o apogeu, caminhou leve como em plumas em direção a garota. Se aproximou, olhou-a de cima a baixo e galanteou:

-O que deseja moça?

-Sabe o que é rapaz, é que meu irmão caiu bêbado ali no chão e tá todo vomitado, eu estou precisando de ajuda para trazê-lo até um lugar seguro, o senhor pode me ajudar?

-Posso, posso.