A dúvida de Pêdão

O município de José da Penha em algum momento recebeu a injusta alcunha de Zé da Bala. Diante de um fato como esse sempre aparece algum político para se aproveitar da situação e se popularizar com o problema.

Já na década de 80, qual Bush quando invoca o medo, um prefeito resolveu solucionar o conflito que se quer existia mais.

Buscando um método para aparecer passou a trocar constantemente a autoridade policial do município. As vezes, não se conhecia quem era o atual delegado de José da Penha.

Pêdão de Zé Preto era uma autoridade em matéria etílica, sujeito carismático e querido pela sua mansidão, bom humor e amizade. Era um desses ébrios que enriquecem os contos das provicianas cidades brasileiras e acabou se tornando vítima da política de segurança implementada pelo prefeito da época.

Acabara de chegar ao município um tal sargento Nogueira e a paisano saiu pela cidade tentando se socializar. Entrou em uma bodega típica do interior, daquelas que vende carne de sol, fumo de rôlo, cachimbo, pão embalado em papel almaço e cachaça.

Nesses tipos de comércio não faltam duas qualidades de gente, quais sejam, os bêbados e os enredeiros.

Falava alto e gesticulava muito, o sargento sentou-se discretamente sem ser percebido pelo irreverente, simpático e embriagado Pêdão.

Indiferente permanecia a autoridade até ouvir Pêdão dizer que recitaria um verso. O policial, afeito às tradições nordestinas voltou sua atenção para o bebedor que encetou:

Perdi a chave de casa
a muié desapareceu
o delegado daqui é côrno
e o home daqui é eu

O dono do bar que desconfiara ser aquele estranho o novo chefe da segurança, sussurou no ouvido de Pêdão sua suspeita. Começou o mumúrio, Ele logo recordou-se da última vez que dormira na cadeia, experiência que não aprovara. Desesperado, conseguiu safar-se em uma verve extraordinária para seu alterado estado de embriaguez.

-Terminou não meu povo!

Achei a chave de casa
a muié apareceu
o delegado daqui é home
eu acho que o côrno é eu

Coçando a cabeça concluiu

- Onde diabo essa muié tava?