Nem com Marx, nem contra Marx

o título desta postagem não é inédito, já foi usado por Carlo Violi em excelente trabalho sobre os textos de Noberto Bobbio acerca do marxismo, no entanto o imaginei oportuno para esta publicação tendo em vista que a idéia da frase parece germinar com relevância nas idéias dos filósofos, pesquisadores contemporâneos e no senso geral.

No forum social mundial que está acontecendo no Rio Grande do Sul já não percebemos tantos marxistas convictos, barbas aparadas dão uma idéia do surgimento de uma nova filosofia de esquerda, quiçá, uma ideologia menos revolucionária e mais reformista.

Em relação ao forum econômico, que ocorre ao mesmo tempo na Suiça, há alguns anos os discursos vêm ganhando uma pauta sócioambeintal ao passo que abranda a fria arrogância dos donos do capital.

Pelo visto a aurora que reluz no horizonte parece que, aos poucos, está a fundir preceitos marxistas e neoliberais criando, talvez, um novo socialismo, ou será um novo capitalismo?

O bolo capitalista só divide quando queima.

Já faz algum tempo que predomina entre nós sistema econômico liberal que fundamenta-se primordialmente na autorregulamentação do mercado. Tal paradigma possui um status tão elevado que supera sobremaneira o poder intervencionista do Estado como bem aduz Vicente Bagnoli em excelente artigo publicado na revista visão jurídica. “A economia, desde então, sobrepõe-se ao direito que passa figurar na história como mero legitimador do pensamento econômico vigente”.

A ausência do Estado não se apresenta saudável nem mesmo ao próprio sistema capitalista, não obstante grande parte dessa doutrina entender que essa seja a maneira mais correta de se conduzir a economia. A própria história nos ensina que quando o mercado encontra-se relativamente a vontade acaba por esfacelar a economia, como ocorreu em 1929, obrigando o Estado Americano a adotar as medidas intervencionistas de Keynes.

Na verdade, não importa aos donos do capital o modelo utilizado pelo Estado para tutelar seus cabedais desde que conveniente seja na tempestade ou bonança, como esclarece o autor supracitado: “quando as coisas estão bem, afasta-se o Estado, quando estão mal, pede-se socorro ao Estado. Ocorre que o funcionamento do mercado depende do Estado, sem ele os próprios capitalistas destroem o sistema”.

O âmago da questão consiste, a meu ver, em uma solução menos onerosa para a sociedade nos momentos de crise, haja vista que nos bons momentos os bônus do sistema capitalista consubstanciam-se nas mãos de poucos, ao passo que os ônus são divididos entre todos quando o equilíbrio do sistema se rompe.

Por sorte, para amenizar os efeitos colaterais do sistema em comento se faz mister a criação de mecanismos capazes de suportar as lesões da estrutura econômica vigente. Creio eu que seria possível sustentar um fundo suprido com recursos do próprio capital capaz de socorrer a economia durante o infortúnio em vez de lançar o problema para quem em nada contribuiu para ele.

Retrospectiva 2009. fevereiro

Pedro das Lages rouba mulher de Dedé

Dedé era um sujeito mal definido esteticamente, muito miúdo e acanhado mais parecia uma caricatura do que um homem. Casou-se com uma moça relativamente bonita, calada e boa dona de casa.

Nos primeiros anos viveram sob paz conjugal, mas nos últimos dias Dedé enveredara pelo mundo da cachaça e se distanciara do casamento. Maria começou a sentir a falta do marido nas obrigações matrimoniais.

Pedro das lajes, percebendo o vácuo deixado por Dedé, se aproxima da mulher fazendo elogios e se gabando dos seus carinhos. Com alguma insistência (mas não muita), conquista a carente esposa de um marido distante.

Com o rapto de Maria, Dedé fica sozinho, desolado, apreensivo, introspectivo repensando sua vida.

No domingo de manhã se levanta decidido, toma um café forte, se veste e sai em passos rápidos à casa de Pedro das Lajes. Se aproxima, percebe a porta aberta e seu rival cochilando na cadeira preguiçosa da sala.

Adentra sem permissão. Pedro se acorda assustado quando percebe aquele vulto à sua frente e de repente...

-Pedro, você carregou minha 'muié', eu fiquei sozinho, num tenho mais o que fazer com aquela cama de casal. Me compre a cama!

Providencial retorno de Marciel ao Canto do Buriti rendeu ao blog um saco de manga coité. Aguardo.

De volta do seu doce exílio na cidade de Pombal na Paraíba, o cidadão patuense por merecimento, pauferrense por condição e caraubense por natureza, Marciel Antonio de sales, com seu apurado conhecimento acerca da maravilhosa arte nordestina, traz um livro sobre o poeta Belarmino de França, Um trovador do sertão. E para se ter uma idéia da perspicácia de tal artista transcrevo abaixo um trecho da bela literatura.

Na feira de Pombal, quando Belarmino cantava versos no meio da multidão, momento em que seu conterrâneo, do sítio Aba da serra, mandava sinais querendo saber se ele tinha gostado do jerimum caboclo que este o tinha presenteado:

Era um jerimum caboco
desse de ponta de rama
mole e sujo como lama
tinha água como coco
vingando em cima de um toco
um palmo acima da terra
encarnado que só guerra
tinha um gosto de cupim
foi o jerimum mais ruim
que deu na Aba da serra

Para Lua Pinheiro

Já faz tanto tempo que não me manifesto sobre Hercílio pinheiro que nem sei se minha querida amiga Lua ainda acessa esse blog.

primeiramente queria pedir desculpas pela demora em atender seu chamamento e dizer que minha irrelevante opinião sobre o seu livro já era previsível, afinal sou fã incondicional do erudito poeta que foi seu pai.

Para concluir de forma a prestigiar e abrilhantar este pequeno blog só mesmo com um verso sobre Hercílio que está em seu adorável trabalho:

Se o poeta do sítio Arapuá
tranpusesse o portão do paraíso
e viesse cantar de improviso
pelas plagas do nosso ceará
Iguatu, Tabuleiro, Quixadá
Ou então nos confins paraibano
e passasse a viver no mesmo plano
que bem jovem foi, forte e altivo
se eu pudesse encontrar Hercílio Vivo
eu cantava um martelo alagoano.

Das minhas reminiscências.

Das doces recordações de minha infância no lugar em que deixei enterrado o meu umbigo, trago com majestosa alegria o maior espetáculo que a natureza reservara para um horizonte tão limitado quanto aquele.

Nada poderia ser mais fascinante para mim do que observar o grandioso alvorecer, ver o sol aparecer aos poucos por trás da serra do Panatis era o máximo show da bela natureza para quem se acostumara desde cedo a olhar a mata cinza e o gado morto.

Quiçá, não fosse somente isso que me encantasse, na solidão do meu contemplamento ouvia o passo cansado do jumentinho que trazia leite e outros produtos do sítio Pejuaba para a casa de dona Ocília, minha vizinha. Essa cena ocorria diante de mim sempre que o sol mostrava sua primeira metade.

Além do cassuá quase sempre pesado o pobre animal trazia no lombo um menino barrigudo, assim como eu.

Pouco tempo depois quando o sol já se mostrava imponente ouvia-se ao longe, a voz de Filomena cantarolar:

La la li, la la li, la la lá
la la li, la la li, la la lá

Em outros dias quando cansava dessa nota entoava uma canção que me transmitia enorme alegria, ouvia com deslumbramento de criança em primeiro dia de circo:

A carreira da raposa
Ela é muito feia
o cachorro corre atrás
ela se arrupeia

Quando não acometida por aquela insanidade verdadeira, quando não atacada por sua loucura era dócil, gentil e alegre. Contentava-me observá-la caminhar saltitante como uma criança de sua casinha singela sem reboco até a residência de mãe cília, como chamamos a acolhedora dona Ocília.

Tudo isso aconteceu em meu coração como um tornado a moer meu peito quando ouvi alguém recitar uma outra doce cantiga de Filomena. Quando cuidava com maternal carinho de Gervásio de Júlio Fontes costumava niná-lo aos embalos dessa tenra canção:

Vavásio quer bem a memena
Memena quer bem a vavásio.

O filho do Brasil é amado em todo o mundo

Le Monde, El País, Financial Times são alguns dos jornais deste mundo cujas opiniões contam. Suas palavras assentadas na reputação intelectual e profissional legitimam ou não fatos ocorridos no âmbito político, econômico e social. Esses três jornais europeus, neste final de ano, colocaram o presidente Luís Inácio Lula da Silva no topo de suas listas de personalidades do ano. O "filho do Brasil" transforma-se em "filho do mundo".

O fato parece ter incomodado os jornais mais relevantes por aqui. Talvez digiram mal outras visões de mundo, que nos chegam com velocidade e sem controle.


Em outro tempo, as notícias sobre essa distinção internacional do presidente Lula demorariam semanas para atravessar os mares e chegarem para poucos. Agora, em um clique, milhões, ficam sabendo que, para muitos, lá fora "Lula é o cara".

Para a mídia tradicional brasileira só resta publicar, no outro dia, as boas e más notícias. Mas o atraso tecnológico midiático poderia se transformar em oportunidade: interpretações e opiniões competentes, embasadas em boa informação, a favor e contra, sobre os fatos do dia anterior.

Ainda sobre Lula, "o cara", a notícia nacional é quase sempre uma opinião, que beira o esboço. Um estado jornalístico insustentável, frente a um tipo de leitor, cada dia mais bilíngüe, que já não casa com um determinado veículo de comunicação "até que a morte os separe".

As novas extensões do homem, articuladas a partir das inovações tecnológicas e do novo social, transformaram a criação, a produção e as formas de comunicação e de relacionamento. No novo ambiente sócio-tecnológico é irrelevante pensar nas questões relacionais e comunicacionais, entre elas as notícias, a partir de um instrumental superado e adequado às guerras delineadas em territórios definidos, defendidos por tropas identificadas e dependentes quase exclusivamente de máquinas e orientadas por um comando e controle centralizados.

A notícia circula cada vez mais em um universo sem centro e sem periferia. Quem discorda, por exemplo, dos rankings dos jornalões europeus, têm liberdade e tecnologia para criar suas próprias listas. Você se anima?

Por:Paulo Nassar professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE).

Nota rapidinha do Blog: FHC e Caetano Veloso Resistem bravamente à tentação do suicídio. Borís Casoy anda atacando até o pobre do gari que varre a sujeira da podre elite brasileira.